Amuar, fazer beiço, resmungar e chutar latas vazias são algumas formas de protesto que, independentemente da idade que tenhamos, podemos utilizar para mostrar que estamos em desacordo. Não gosto e, pimba. Não deixas, cá vai. É assim. E é assim em qualquer idade. Tão irritados estamos que quase partimos as portas. Tão nervosos que gritamos até doer a garganta. Tão mas tão zangados que deitamos tudo ao lixo, lixo, bah, e rasgamos e acabou, fora, acabou.
Para fazer face a estas situações, há pouco melhor do que as mães. Quer dizer: não há nada melhor do que a minha mãe em particular, mas as mães de uma forma geral são a arma perfeita para combater revoltas destas.
Então sai-se e, com sorte, volta-se com meio quilinho de mãe. Tira-se do saco e logo ela olha, ouve e fala, dependendo da marca que comprarmos pode ou não roubar temporariamente o que só ela sabe que nos vamos arrepender de deitar fora, força-nos a descontrair, a chorar, e fica a ver se passa enquanto nos dá um jeitinho à roupa. Diz-nos que vai passar, mesmo quando dizemos que não vai nada. E, estamos nós preocupados a queixar-nos de coisas verdadeiramente importantes quando a mãe – algumas marcas, claro – faz tapioca. Ou
Tang de laranja fresco com gelo. Ou migas com broa da terra. E aí as coisas por que reclamamos e por que sempre reclamámos passam de gravíssimas e inquestionáveis a "é assim mesmo" ou "um dia ainda nos vamos rir disto", mas "agora dorme, que precisas de descansar". Nunca nos rimos, mas acabamos sempre lá para ver. Estamos ocupados a resmungar com cara de maus e dizem para nos sentarmos direitos, que aquilo faz mal às costas. E damos por nós e estamos a comer tapioca e em amnésia, sem conseguir elencar a razão dos protestos que nos fizeram ir buscar a mãe.
Parece que na Florida, nos Estados Unidos, houve no sábado uma desgarrada de manifestações de gente zangada. A origem dos descontentamentos foi uma bandeira-símbolo da Guerra Civil norte-americana, um pano com a luta de gentes de tons de pele diferentes estampada, pintada com a guerra das cores, que uns querem fora da Assembleia Legislativa da Carolina do Sul, e outros não. É sempre bom discutir por coisas importantes: uma bandeira que fica ou sai é só um exemplo de coisas onde vale sempre a pena gastar tempo e suor, e quem sabe matar umas quantas pessoas.
Ora, na Carolina do Sol, perdão, do Sul, parece que faz um calor dos diabos e que um tipo de suástica na T-shirt começou sentir-se mal. Vai daí, chega o polícia e, não obstante ser negro, leva o neonazi para fora do calor e fá-lo hidratar-se com água. "Mas, mas, mas...", terá dito o branco. "Depois discutimos isso tudo, agora bebe mas é", ouviu-se o polícia, enquanto estendia a garrafa. "Depois contas-me. Agora bebe."
(foto de Rob Godfrey)