São 365 dias e seis horas até à meta. É uma corrida, é uma verdadeira maratona aquilo que a Terra faz a andar à volta do Sol a rodopiar sobre si mesma. Uma dança. E demora 365 dias e seis horas com aquela dança. Este quarto de dia é acumulado ao longo de quatro anos e, ao fim destes, há o 29 de fevereiro.
Agora imaginemos que um astrónomo em Alexandria nunca se tinha lembrado disto. Melhor: imaginemos que alguém se tinha lembrado disto – “Olhem, eu acho que a cada quatro anos devíamos ter mais um dia em fevereiro” – e, pimbas!, o senhor tinha sido queimado na fogueira.
Ou imaginemos que, apesar de as investigações científicas mostrarem que 365 dias não eram o suficiente para completar uma volta, nada se fazia e se encarava o retrocesso das estações como uma inevitabilidade, e ao longo dos milénios o Natal tanto poderia ser quente como frio.
Imaginemos que, em vez de se acrescentar um dia a fevereiro, se aceitava que as estações do ano são algo que muda e que começa cada vez mais cedo. E que depois dão a volta. Assim como as alterações climáticas, mas de uma forma mais organizada, como um relógio com pouca pilha.
Ou imaginemos, imaginemos só, que os dias deixavam de ter 24 horas, e o nosso tempo de sono, e o tempo que passamos acordados num dia, e o tempo que temos para trabalhar, e em que namoramos e rimos e choramos, passavam a ser não 24 horas, mas 24 horas e uns pós. E então a Terra chegava à meta no exato fim do 365.º dia.
Haveria pássaros? Imaginemos, estamos só a imaginar: haveria trinados de piu-pius ao acordar? Haveria coaxos a saltar do rio quando passo? Haveria a brisa fresca que já dispensa o casaco? Haveria flores a despontar e a manchar o chão que piso? A sério, imaginemos: haveria primavera?
Sim, Mas quando?
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