terça-feira, 17 de março de 2015

o especialista.

Arranja-me um substituto de ti. És uma pessoa difícil, mas percebe-me. Há pouco mais que precise do que a serenidade das pessoas simples: o guru que convida para um café, o Papa que liga à miúda doente à hora do jantar, o companheiro que lê enquanto ela passeia abraçada a um amigo, o campeão olímpico que sorri e se deixa fotografar e fala como se não estivesse há duas horas a sorrir, a fotografar e a falar.

Gosto de pessoas simples. Mesmo. Mas não posso viver sem ti. Liguei e o senhor doutor não está. Fiquei em pânico de desapareceres. Como assim não está? Não desapareces nunca, está bem? Por favor, arranja uma maneira. Criaste uma cápsula que te protege e um discurso que só as tuas assistentes percebem bem. Quando se te embarga a voz defendes-te, mostras o mais complicado que há em ti. Pois, eu preciso da serenidade das pessoas simples, mas também preciso de ti. O senhor doutor não está, mas tens de estar. És demasiado importante, entendes? Não morras, por favor, sem me mostrares o caminho que sabes que direção toma. Não morras sem me mostrares a cura, sem me dizeres o que fazer. O que fazer? Meu deus, o que faço agora que não estás?

Hoje, a minha amiga explicava-me que precisava de levar a miúda ao médico porque não gostava do cheiro daquele nariz. Depois, pediu desculpa, mas não sabia explicar melhor: não gostava daquele cheiro. E eu disse-lhe: “Não te preocupes, que te percebo. Não sei se já reparaste, mas tenho dois filhos.”

Dois filhos.

De repente encheu-se-me o coração com uma alegria imensa. E senti lágrimas na barriga, percebes? Desculpa, não sei explicar melhor. Senti lágrimas na barriga. Eu tenho dois filhos.

Não morras, por favor. Preciso da serenidade das coisas simples. E da complexidade do que tens para nos dar.

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