Estou a sonhar contigo quando vais embora. Fica. Vá. Ficamos aqui a passear.
Gosto da biblioteca. Gosto tanto. Há um silêncio, um respeito. Parece que entrámos numa igreja, de mão dada, chiu. Para casar, porque não?
Cá fora a oliveira. Lembras-te de quando viemos aqui juntos? Árvore notável, 1500 anos. Olive tree. E fotografámos. Tirámos tantas fotografias. Eu tiro fotos a mais. Mas depois gostas, não é? São a mais, sempre a mais, sempre a mais. Boas, as fotos.
Há uma hera presa a um muro. E fotografo. Hortênsias a conviver com heras. E fotografo. Árvores vergadas. Foto. Raízes expostas. Foto. No restaurante olham para nós porque trazemos relva nas calças. Sorrimos. Pudim de pão. Natas do céu. Para mim é só uma salada. Riso, sim. Tens a certeza de que é só uma salada?
Faz duas horas que aqui andámos e parece que é a primeira vez. Os passeios para esmoer os doces. Foi só hoje.
Na primavera há uma bebedeira de aromas. Aqui, o cheiro a terra entranha-se-nos nos olhos e vê-se por todo o lado onde pinga, onde ganha cor com o fim destes dias de chuva. Neste jardim onde andamos tu e eu, paramos. Foto. A ti e a mim. Aos dois. Agora aí. Aqui.
Eu a sonhar contigo e vais embora. Bah. Então agora é que vais embora?
Não era um sonho. Estou mesmo aqui.
(Olive tree, Serralves, 2015)
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