quinta-feira, 4 de junho de 2015

a poça.

Há troncos revestidos por heras na estrada. Caminho sombrio, fresco, tão bom no calor do dia que aparece assim, desenquadrado, no meio da primavera. A mota deita-se ora para a esquerda, ora para a direita, e a estrada é minha só.

Podia ser bom mas não é. Dói tanto. 

Saí sem dizer onde ia. Bati a porta. Estou tão magoado contigo que agarrei no capacete e vim. Com a inclinação da mota que rola, sinto embalar o batimento do coração que se esfria, tal como a ponta do nariz se esfria neste embalo para um lado e para o outro, em que me acalmo.

Porque me magoas tanto? Porque te proteges magoando-me tanto?

O caminho até ao mar acompanha o estridente eléctrico de ferro que pára na Praia das Maçãs. Ainda não sei se vou para lá ou não. Vou sem rumo. Faz-me bem ir assim sem rumo. Fiz uma viagem parecida depois do fim de semana que passámos juntos. Foi o primeiro. Disseste que me amavas, eu estava de férias. E quando seguia até à praia imaginava se sorririas com os lábios secos e se pensarias em mim da mesma maneira quando paravas para encher a garrafa junto à maquina do café. E quando olhava o mar pensava em ti a trabalhar. E pensava em mim, com tanta sorte. E queria que aquela brisa durasse para

o quê. não te conheço. dói. não mexo o braço. ajuda-me a pôr o braço direito. onde estou. o que é que aconteceu. não sei, não sei o nome, deixa-me. saibo a sangue e a erva. o que é isto. sintra. acho que é sintra. sim, vivo em sintra. quem és tu. não me posso mexer porquê. quem é esta gente toda. o que aconteceu. de onde vem este sangue. não, não tenho ninguém à minha espera. quero-me levantar. deixem-me levantar. o que aconteceu. quero-me levantar.


(Ribeira de Colares, 30 de maio de 2015)

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