terça-feira, 16 de junho de 2015

ET.

Na minha terra, há mulheres que andam quilómetros de autocarro para terem direito a uma promoção de cêntimos e que depois apanham um táxi para casa. Há homens que chamam nomes aos filhos para que aprendam a ser bem-educados em público. Há asmáticos a fumar, obesos a lamber gelados, xico-espertos ao volante de grandes bombas a comer caca do nariz. Ainda hoje, era um Tesla e o tipo de fato, e eu a pensar naquilo…

Na minha terra, gastam-se milhares de euros em inaugurações da treta e cortam-se subsídios. Faltam remédios na farmácia, papel higiénico nos hospitais e folhas nas impressoras das escolas, porque o Estado, o próprio Estado, é o último a pagar… em quase tudo. Há reformados a gastar mais em medicamentos do que aquilo que recebem de pensão. Mulheres a endividarem-se com vestidos que usam uma vez na vida. Casamentos que demoram mais a organizar do que o tempo que o casal aguenta junto.

Na minha terra, há quem pare deliberadamente as escadas do metro para obrigar quem não pode subi-las a fazê-lo, a pé. Há mulheres a morrer de tristeza por não poderem ter filhos e milhões de crianças sem pais. Há velhotes a arrancar flores que demoram um ano inteiro a florescer e miúdos a direccionar os repuxos da rega para que, de manhã, quando vou correr, eu tome um banho assim, de surpresa, tipo relva a precisar de crescer.

Ora, eu já sou grande. Além de que costumo tomar banho depois. Quando me vens buscar?


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