Lá fora, há um scooby-doo a dançar ao frio e a disparar areia, a correr para o pau, a voltar para o impermeável preto a trazer o pau, a correr para o pau, a voltar para trazer o pau.
Tem ar de ser divertido atirar o pau à vaca assim à beira-mar. O inverno traz destas coisas boas: ter a praia para nós e uns gatos-pingados de ondas bonitas, altas e borrifadoras. Gosto. Mas não sei ouvir o som do mar. Gostava, mas não. São tantos os que já apanhei sentados a olhar para o ondular da espuma que soará certamente a alguma coisa boa. Nunca ouvi nada. Quer dizer: ouço à minha maneira com estes ouvidos que não funcionam.
Quando lia Sophia, ou Nemésio, ou Pessoa, ou mesmo o Antero a rimar “as vozes do mar, das árvores, do vento!”, pensava sempre oh caraças: a voz do vento vá-que-não-vai, que é fria e despenteia; agora a voz do mar e das árvores soará a quê? E passava. Não vale a pena debruçarmo-nos muito em poços sem resposta.
A que soam as ondas? Como gritam as gaivotas? Qual o barulho da pá a enterrar-se e a desenterrar-se para fazer o túnel do miúdo de gorro e cachecol? A que soa a minha voz? O que ouves quando tento falar sem mãos?
Não interessa. Deixa. A fazer bodyboard mal se distinguem. Na prancha, talvez possamos duvidar.
Os surfistas, afinal, parecem gaivotas no mar. Aposto que o miúdo que não distingue um cão de uma vaca concorda comigo.
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