Tinha vinte quando foi saneado de punho fechado. Mulher, três filhos, tinha pertencido à guarda fronteiriça e, como tal, não conseguia negar as ligações à PIDE. Acredita em mim. Estava-se mesmo a ver que tinha ligações à PIDE, tresandava a PIDE. Ela acreditou. Mesmo quando foi enxotado com murros no ar que não se respirava na sala cheia de gente a votar quem merecia e quem não merecia ficar, ela acreditou. Tresandava a PIDE, não mereceu ficar. Os braços erguidos gritavam para ele ir embora. E ele foi. Deixou mulher. Deixou um, dois, três filhos pequenos, para ir para a Zâmbia. Diz que o exílio foi na Zâmbia, onde continuou a trabalhar.
Ela também ficou, revoltada. Ele era bom, trabalhador, cheirava nada a PIDE, cheirava bem. Cheirava tão bem como no dia em que, quinze anos depois, processo ganho contra o Estado, indemnização no bolso e marcas no olhar, a veio visitar, lhe bateu à porta e disse obrigado.
Nem sei bem. Inacreditavelmente não sei dizer o nome.
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