Nove e meia.
Chichi, cocó, lavar os dentes, cama. Há um ritual todas as noites quando nos deitamos. Lemos um livro, cantamos uma canção e imaginamos uma aventura em nome próprio. “Agora é a história do Henrique”, manda ele. E é assim.
Todas as noites, era uma vez um menino chamado Henrique, que vive numa casa em Odivelas. E o Henrique faz algo fantástico. Sempre. Por exemplo, come tanta sopa que fica gigante e ajuda o pai a arranjar o telhado. Ou então fica pequenino porque precisa de entrar no ralo da banheira para chegar depressa ao mar.
O Henrique conduz carros, aviões e helicópteros. Cozinha e organiza grandes festas. É amigo íntimo do Pai Natal e já saltou de um continente para o outro agarrado ao lombo de um dinossauro. Tem mãe, pai e muitos filhos.
Dez e tal e ainda aqui estamos. Luz fechada, vá. É tardíssimo. “Daqui a pouco vou lá ter, está bem?” Ficas aqui sossegadinho, mas é. Dorme.
Onze. Meia-noite.
“Quero fazer chichi.” Não precisas de me chamar para fazer chichi. Vai lá.
Uma da manhã. Duas.
“Tenho sede, dás-me água?” Está aqui o copo, não precisas de acordar a mamã. A mamã deixa aqui o copo. Não, ainda é cedo para ires para a minha cama. Fica aqui, mas é.
Três da manhã. Quatro. O que é que foi desta vez, Henrique?
“Diz-me uma coisa. A chuva… é ácida?”
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