quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

a morte.

Não vivemos para sempre. Vivemos mais agora porque nos prolongam a vida depois de estarmos doentes e prontos para ir, mas não ficamos aqui para contar a história.

A consciência da morte surge na idade dele, cedo de mais para conseguir perceber porque não podemos levar a playstation lá para o céu quando morrermos – "têm televisão lá, mãe?" –, cedo de mais para perceber que não vamos, não podemos, em nenhuma família se pode, filho, ficar aqui para sempre. 

Para aliviar as coisas, quando o tema surge à noite – já depois da história, e da canção, e da brincadeira com as aventuras do henrique que tem um avião e voa para outro país para ir buscar batatas para fazer a sopa para a festa com os amigos –, há uns tempos combinámos ir todos juntos. 
Eu, o papá, o mano, os avós. Mas ele sabe que não vamos. A avó Hirmínia já foi, a avó Carmito também, e nós não fomos, porque tínhamos coisas para fazer, filho, agora dorme.

Ele já percebeu que não é para sempre. Um dia mais tarde, talvez quando chegar à idade do outro, perceberá que há vários tipos de morte, e há quem morra muito antes de ir lá para cima, quem queira morrer e fique cá em baixo, quem se agarre à vida e seja sugada como num tornado.

Tens a vida toda para aprender muita coisa, filho. Há outras coisas, mais bonitas, que também te quero ensinar. Agora dorme.
"Quando estiveres velhinha, e fores lá para cima das nuvens... depois telefonas, está bem?". Telefono, claro que telefono.

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