quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

instagram.

Podemos fazer do instagram um álbum de imagens bonitas. Seguindo o conceito à letra, uso-o para guardar instantes, momentos, qualquer coisa de especialmente espantoso ou feio, uma recordação, qualquer coisa de deslocado, pessoas ridículas, eu e os meus, figuras tristes. Dá-me gozo fotografar uma garrafa de cerveja de pé no meio da passadeira, um ramo de árvore onde caíram todas as folhas menos uma, aquele penteado, aquela montra esquisita, o carro com o pneu furado, o homem à minha frente no metro com aqueles sapatos de praia, a miúda com o cabelo verde.

O apanhado do dia a dia fica assim interessante, e sentimo-nos maiores, mais inchados, vejam lá aquela figura, eu nunca faria isso assim, olhem o estranho, olhem o paradoxo, olhem para ali. Ali.
É simples dar bitaites sobre a vida dos outros e sair-se bem na foto. Opinar sobre o que alguém fez mal, rir do palhaço, gravar a histeria e mostrá-la como se nos fosse distante. Às vezes, quando não é evidente, legendamos, sublinhamos, pomos em MAIÚSCULAS, para demarcar a diferença entre o outro e nós próprios. E dizemos ao miúdo para não ser preguiçoso e tantas vezes o somos, e ao casal que nós nunca-jamais-em-tempo-algum teríamos televisão no quarto e vamos para a cama sozinhos, ensinamos ao vizinho como poupar e estamos atolados em dívidas, apregoamos espírito forte, sapiência, inteligência, pragmatismo e, bem espremidos, não sai nada, não valemos a embalagem que temos, o rótulo que nos pintamos.

E então, tantas vezes, olhamos ao espelho e pensamos em captar-nos, em fotografar-nos, perguntando quem somos nós para instagramar. E então, tantas vezes, olhamos ao espelho e pensamos.

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