Não confio em mulheres altas, em meias-lecas. Não confio em mulheres inteligentes. Não confio em mulheres com falinhas mansas, calmas, em mulheres sérias. Não confio em mulheres que oferecem ajuda, em mulheres com sorrisos. Não confio em mulheres gordas, com celulite, com pêlos nas pernas. Não confio em mulheres que fazem covinhas quando riem. Que enrugam a testa, que erguem o sobrolho. Não confio em mulheres sem sobrancelhas, carecas, que franzem o nariz. Não confio em mulheres que sabem ouvir. Em mulheres que não se calam. Em mulheres saudáveis, em mulheres doentes, em mulheres com buço. Não confio em mulheres com os lábios secos que puxam as peles com os dentes enquanto ouvem. Não confio em mulheres que lêem o jornal, em mulheres com os cabelos brancos. Não confio em mulheres que riscam livros, que recortam e colam por trás da secretária. Que pedem romances emprestados e não devolvem. Que oferecem livros a outras mulheres. Não confio em mulheres que sabem recitar um poema. Em mulheres com amigos gays. Em mulheres que beijam na boca. Não confio em mulheres que coçam a cabeça, que esfregam as mãos, em mulheres quentes, em mulheres com frio. Não confio em mulheres bem-postas, conscientes, com protocolo. Não confio em mulheres sem modos, sem carro, sem dinheiro, não confio em mulheres sem filhos. Não confio em mulheres que roem as pontas dos dedos, que comem cola, que dão conta de um chocolate numa travessia de barco, que correm ao fim da tarde sozinhas, que escondem gomas no quarto. Não confio em mulheres que riscam o interior das letras quando falam com as amigas. Que desenham flores e cornucópias nas páginas amarelas. Não confio em mulheres que brincam com os anéis, em mulheres enrascadas, em mulheres que sabem pesquisar em listas telefónicas, que levam moleskines, agendas de bolso, blocos de notas e cadernos na mala. Não confio em mulheres que arrumam a carteira e deitam fora talões de compras. Não confio em mulheres com acessórios de marca, em mulheres de calças, em mulheres com lenços de papel nos bolsos. Não confio em mulheres com cicatrizes ou nódoas de pasta de dentes. Não confio em mulheres de letras. Não confio em médicas. Não confio em mulheres que se dizem especialistas, não confio em conselheiras. Não confio em mulheres caladas, que estão sempre a mandar mensagens, que tiram o som ao telefone, que viram o visor para baixo. Não confio em mulheres que gostam de programas que mostram como estarão daqui a trinta anos, em mulheres de cinquenta que tentam ter trinta anos, em mulheres com menos de trinta anos. Não confio em mulheres plásticas, que se queixam, que se gabam, que pintam as raízes, os olhos, as maçãs do rosto, as unhas dos pés de vermelho. Não confio em mulheres-palhaço. Não confio em mulheres que não gostam de rosas. Não confio em viúvas, em tristes, não confio em deprimidas. Não confio em mulheres que se desleixam e não se maquilham. Não confio nas que se arranjam demais. Não confio em traídas que sabem que são traídas e viajam com os maridos. Não confio em mulheres que dão erros ortográficos em cartas. Não confio nas que aceitam e usam as prendas dos amantes casados. Não confio em mulheres que fogem com os namorados. Não confio nas desempregadas, nas violadas, não confio nas amigas coloridas. Não confio nas melhores amigas.
Chega?
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