sábado, 13 de dezembro de 2014

magra. do latim, 'macer'

Quando a balança nos mostra o peso de grávida, mas o bebé tem cinco anos e está à nossa frente a fazer legos, é altura de dizer BASTA e começar a fazer dieta. Eu comecei por não conseguir apertar o botão das calças e por nem a roupa largueirona me esconder o pneu (de onde é que isto veio?). O reflexo do espelho não era eu, a barbela começou a aparecer nas fotografias em que era apanhada desprevenida. Com a tensão arterial a subir e a auto-estima (autoestima, com o novo Acordo) a descer, tinha de tomar essa decisão.

Quem me conhece sabe que sou uma mulher grande. Quer esteja mais ou menos magra, sou sempre grande. Mesmo quando não me arranjo, não me penteio, não me maquilho e estou gorda, dou nas vistas. Porquê? Porque sou grande.

Pertenço ao grupo das mulheres que se sentem melhor quando têm o peso ideal. Outras há que põem essa meta para segundo plano, e riem e estão de bem com a vida, apesar dos quilos a mais e das túnicas com leggings elásticas, que conseguem esticar. Eu não. Daí fazer dieta.

Um destes dias, em conversa com o meu endocrinologista, o senhor que volta e meia se certifica de que a minha tiróide NÃO funciona, descobri que muito possivelmente terei de fazer dieta toda a vida. Não só cortar nos fritos e nos doces, mas fazer dieta a sério, e habituar-me a isso, não para ser magra (para isso eu preciso fazer restrições severas pelo menos seis dias por semana), mas para não ter excesso de peso. Mas porquê? Porque sim. O meu corpo é assim. E então ando a encaixar a ideia (tanta gente má pràí...).

Enviar mensagens à Jéssica-macérrima-Athayde a dizer-lhe que ela devia ter vergonha e o diabo a quatro por ter ido desfilar de biquíni é ultrajante para todas as mulheres. É de ter vergonha de ser mulher, porque foram mulheres a maioria das que opinaram dessa maneira. É de apetecer dar um chapadão por mensagem, assim mesmo, um chapadão.

O mundo da moda impõe ridículas restrições de formatos, alturas e perímetros. Transpor essa maldade para a vida real devia ser alvo de coima, com direito a rodas bloqueadas e reboque.
Há alturas em que sou muito feliz com a barriga que tenho. Quando não sou, acreditem, não tem nada que ver com moda. Terei sempre dias em que estarei muito contente apesar da celulite nas coxas e momentos em que desejarei andar de burka, apesar de estar alta e espadaúda.

Sejam felizes com o corpo de mulher e, se quiserem mostrá-lo na passerelle, mostrem-no. Abaixo a ditadura dos ossos, aplaudam as curvas.

(Boa, Jessy!)

PS - Magro vem do latim 'macru', mas depois não ligava com o texto e tal. Ou talvez não. Ou melhor, não sei nada de latim, não se inflamem, é só um título.

(Publicado no meu facebook a 15/out/2014, a propósito da polémica com Jéssica Athayde)

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