“Há três presentes que não se
embrulham. Sabias? Disseram lá na creche. São os beijinhos e são os abraços.”
“Então qual é o outro? Isso são
dois, não são três.”
“Ah, deixa ver. É o ouro. É-é. O
ouro também não se embrulha: disseram lá na creche.”
“Pensa lá bem, se calhar não é bem o
ouro.”
“É-é. O ouro não se embrulha. Compraste prenda para ele? Podemos dar beijinhos e abraços. Disseram lá na
creche. Achas que ele gosta? Lápis novos como? Onde? Também quero! Preciso,
sim. Um conjunto de lápis, e canetas e lápis de cera e guaches dos Carros. A
ele dou beijinhos e abraços. Falas com ele, não é? Com o Pai Natal. Ele tem
mandado mails? Não me portei bem porque me dói o ouvido. Não digas isso. Não
ouço bem e se não ouço não posso obedecer. É isso. Tomas banho comigo? Tapas o
ouvido com algodão? Ai, magoaste-me, bruta! Oh, despes-te sempre primeiro, eu
queria ser o primeiro a despir e despes-te sempre primeiro. Não quero beijinhos,
larga-me. O que é que é isso? Tu não pões do meu creme? Agora podemos fazer
aquilo do avião? Iauuum… Toca a sair os passageiros! Outra vez. Iauuuum… Sair os passageiros! Outra vez. Iauuuum!... Os passageiros a sair! Outra vez. Cansada porquê?! Oh, estás sempre cansada! Posso dormir na tua cama hoje? Larga-me, estás a esmagar-me
o coração! Sabes que há meninos que não têm prendas. Eles só recebem beijinhos
e abraços. São prendas que não se embrulham, percebes? Ainda há outra. Não me
lembro, disseram lá na creche. Ah é isso, ainda agora te disse, ai mamã, é o ouro. É-é, disseram
lá na creche. É isso: o ouro também não se embrulha.”
Talvez seja, de facto.
(Azenhas do Mar, 26/12/2014)
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