sábado, 27 de dezembro de 2014

o ouro.

“Há três presentes que não se embrulham. Sabias? Disseram lá na creche. São os beijinhos e são os abraços.”

“Então qual é o outro? Isso são dois, não são três.”

“Ah, deixa ver. É o ouro. É-é. O ouro também não se embrulha: disseram lá na creche.”

“Pensa lá bem, se calhar não é bem o ouro.”

“É-é. O ouro não se embrulha. Compraste prenda para ele? Podemos dar beijinhos e abraços. Disseram lá na creche. Achas que ele gosta? Lápis novos como? Onde? Também quero! Preciso, sim. Um conjunto de lápis, e canetas e lápis de cera e guaches dos Carros. A ele dou beijinhos e abraços. Falas com ele, não é? Com o Pai Natal. Ele tem mandado mails? Não me portei bem porque me dói o ouvido. Não digas isso. Não ouço bem e se não ouço não posso obedecer. É isso. Tomas banho comigo? Tapas o ouvido com algodão? Ai, magoaste-me, bruta! Oh, despes-te sempre primeiro, eu queria ser o primeiro a despir e despes-te sempre primeiro. Não quero beijinhos, larga-me. O que é que é isso? Tu não pões do meu creme? Agora podemos fazer aquilo do avião? Iauuum… Toca a sair os passageiros! Outra vez. Iauuuum… Sair os passageiros! Outra vez. Iauuuum!... Os passageiros a sair! Outra vez. Cansada porquê?! Oh, estás sempre cansada! Posso dormir na tua cama hoje? Larga-me, estás a esmagar-me o coração! Sabes que há meninos que não têm prendas. Eles só recebem beijinhos e abraços. São prendas que não se embrulham, percebes? Ainda há outra. Não me lembro, disseram lá na creche. Ah é isso, ainda agora te disse, ai mamã, é o ouro. É-é, disseram lá na creche. É isso: o ouro também não se embrulha.”

Talvez seja, de facto.
(Azenhas do Mar, 26/12/2014)

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