terça-feira, 30 de dezembro de 2014

perspetiva.

O Herman dizia: "Ai, moça, com um cabelo louro tan bonito, tinhas de te lembrar de pintar as raízes de preto."
Bem, eu não tenho as raízes pretas; são grisalhas. Ah, bem sei: esta é daquelas coisas que mulher que é mulher não põe por escrito. Mulher que é mulher não arranja as sobrancelhas, já as tem alinhadas e contornadas; não se depila, "quais pêlos? Eu não tenho pêlos!"; pinta o cabelo para ter mais brilho, não porque precise.
Er.... pronto, eu não sou assim, vim com defeito. De maneira que deixei de pintar o cabelo, e todos notam. De repente, do nada, recebo mensagens de incredulidade, "Mas porquê?!", conselhos, "Porque não pintas em casa?", ultimatos, "Se não cortas curto, vai ser muito difícil...", e sigo em frente.

Há muitas razões que podem levar uma mulher a deixar de pintar o cabelo. Independentemente de quais forem, não é fácil, nunca é fácil passar a fase de aparente desleixo com orgulho na auto-estrada que vai surgindo na cabeça, não. Como em muitas outras situações da vida, às vezes apetece desistir, entrar no primeiro cabeleireiro e pedir para nos devolverem os anos, o aprumo, o cuidado que transparecíamos. Não se pense que é fácil para uma mulher. Durante aqueles três, quatro anos, desejamos que a fase passe, que o cabelo branco apareça de uma vez, "arranca de uma vez esse penso sobre os pêlos do braço, arranca!".
Tal como aqueles carros que passam ao nosso lado num dia de chuva, isto não cai bem, splash!, deixa-nos enlameadas, com a reputação manchada, não é comum.
Mas, que fazer? Gosto do tamanho do meu cabelo, e não é algo por que tenha de pagar a cada quatro semanas, não é algo que me enfraqueça a raiz.
Felizmente, de vez em quando, há quem nos dê a volta e nos desarme. Alguém que vê além das aparências, do comum, do imposto:

"Olha, tens o cabelo loiro! E, olha, em baixo é castanho, não é? E aqui junto à cabeça é branco. Tens três cores, não é? Que lindo, mamã."

Lindo és tu.

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