quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

teoria da relatividade.

Estava a sair do metro e as miúdas tentavam descer pela escada rolante que subia. Riam, guinchavam mesmo, umas observavam as outras, a ver se conseguiam. “Segura aí os livros que eu consigo.” Que idade teriam? Doze. Se fosse apostar, apostava por aí, nos doze. Mas podiam ter mais um bocadinho. Menos um bocadinho. É tão difícil estimar a idade desta gente hoje em dia…

Um grupo de miúdas giras, todas diferentes nos seus all stars iguais e nos seus cabelos com o mesmo tamanho e o mesmo corte, todas diferentes com as mesmas calças justas, nestes preparos: a escada rolante subia e elas queriam descer por ali. Simples. Pensei que talvez eu estivesse errada, a usar as escadas ao lado das delas para sair da plataforma, mas daí talvez não. Acabámos por chegar ao fundo do patamar ao mesmo tempo, eu obviamente muito menos divertida, muito menos cansada, sim, mas mais velha, chata, cota até, nem sequer sorria, a fazer coisas sem graça como aproximar o passe para abrir a cancela (iriam elas saltar?) e dirigir-me para o carro enquanto duas das três corriam para a paragem.

Acabei por ir no encalço de uma, decerto vivia por ali, que se despediu e seguiu séria à minha frente (seria a mesma?), pronta para chegar a casa e se fechar no armário. As outras, juntas, continuavam a ouvir-se íamos nós já lá longe, ainda pareciam ter energia para tocar às campainhas, mandar calar os piropos aos miúdos do parque, responder torto à professora, fazer uma tatuagem na virilha e pôr um piercing na sobrancelha. A miúda que eu perseguia, obviamente em processo de transmutação (estava mesmo à espera que virasse casulo), ouvia com certeza os guinchos das outras e ia teclando no telemóvel enquanto andava – já simplesmente não há como caminhar sem teclar.

Por momentos, tentei percebê-las. Crescer custa para caramba, e a idade da parvoeira é o tempo da incompreensão. Tentei pensar, hey!, são miúdas! Não foi assim há tanto tempo que eu estava na idade delas, e partilhei daquela histeria, recebi o mesmo olhar de desdém dos circundantes, fiz aquelas experiências, ou outras piores, mais ridículas.

Depois fiz as contas e resolvi não pôr isso por escrito – claro que é mais forte do que eu e acabei de o fazer – mas… bolas! O tempo foge-nos pelas mãos (cliché) e quem se transmuta somos nós! A brincar a brincar, passaram mais de 20 (vinte!) anos. Como poderei eu achar que as percebo? Como poderei aproximar-me? Como farei quando o pirralho chegar aos 12 e se fechar em copas e eu continuar a achar que o percebo, que sei lidar com o assunto, porque foi há pouco tempo e, então, (morde a língua para não sair uma asneira, alda mota), terão passado 30 anos! Trinta anos, pá!

Crescer custa, sim, mas o passar dos anos quando deixamos de crescer é a-bso-lu-ta-men-te lixado. As responsabilidades a que não há como fugir, como cozinhar, quando se detesta, trabalhar, quando só apetece dormir, prender uma prateleira à parede, quando odiamos bricolagem. As miúdas que descem a escada rolante no sentido contrário não o sabem, e quando o perceberem talvez já tenham passado os tais 20 ou 30 anos, e talvez não consigam encaixar a ideia de que estão a ficar velhas, chatas, cotas, a ser olhadas de lado por catraias que, histéricas, tentam contrariar a lei da gravidade e da razoabilidade. E as outras eram elas, podiam jurar, ontem mesmo.

Facto: a vida passa rápido demais, e não nos dá tempo para nos adaptarmos. Quando damos conta, num ápice, temos o miúdo na faculdade e o pequenito a subir ao escadote e a querer ser ele a fazer os furos na parede.

Quando tiveres a idade do mano eu ensino-te a usar o black&decker, prometo, agora desce daí. “E tu ainda aqui estás quando eu tiver a idade do mano?” Estou, filho. “Boa. Bem me parecia.”
Nem quero fazer as contas, recuso-me.


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